14. De Volta ao Brasil

  • Juscelino Kubitsheck no Rio de Janeiro. 11 de setembro de 1967. Arquivo Público do Estado de São Paulo/Última Hora.
  • Juscelino Kubitsheck em baile de carnaval no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. 29 de fevereiro de 1968. Arquivo Nacional.
  • Juscelino e Sarah Kubitsheck, entre outros, participam de seresta. Diamantina (MG). 2 de outubro de 1968. Arquivo Público do Estado de São Paulo/Última Hora.
  • Juscelino e Sarah Kubitsheck, entre outros, participam de seresta. Diamantina (MG). 2 de outubro de 1968. Arquivo Público do Estado de São Paulo/Última Hora.

No dia 9 de março de 1967, Juscelino retornou definitivamente ao Brasil e logo depois encontrou-se com Carlos Lacerda e Renato Archer. Embora tivesse obtido do governo a garantia de plena liberdade de movimento, foi advertido de que estaria sujeito a prestar depoimentos nos inquéritos em que estivesse envolvido. Fixou residência no Rio.

Em 1º de setembro, ficou decidido que a direção da Frente Ampla seria formada exclusivamente por parlamentares e dois elementos apolíticos, ligados à Igreja. Ficou também estabelecido que emissários da Frente seriam enviados aos estados a fim de mobilizar a opinião pública. No dia seguinte, no entanto, 120 dos 133 parlamentares oposicionistas decidiram não ingressar na Frente, por desconfiar das intenções de Lacerda, que poderia usar o movimento como base para sua candidatura à presidência da República.

Ainda no início de setembro de 1967, o ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama e Silva, pediu ao Serviço Nacional de Informações (SNI) um relatório que esclarecesse exatamente em que medida Juscelino estava comprometido com a Frente Ampla. No dia 11, o presidente Artur da Costa e Silva deu ordem para que o Departamento de Polícia Federal convocasse o ex-presidente a fim de ouvir o relato de sua participação no movimento. No dia seguinte, entretanto, o presidente decidiu não adotar nenhuma medida em represália à recusa de Juscelino em comparecer à Polícia Federal. Naquela noite Juscelino embarcou para os Estados Unidos. A atitude que assumiu frente às ordens do governo foi vista com simpatia pelos dirigentes sindicais de quatro das sete confederações nacionais de trabalhadores, em reunião realizada em 13 de setembro. Sua união política com Lacerda foi então considerada como a única forma de recolocar um civil na presidência.

Em 24 de setembro, Lacerda viajou para o Uruguai. No dia seguinte lançou com João Goulart uma nota conjunta - o Pacto de Montevidéu - na qual a Frente Ampla era definida como um "instrumento capaz de atender... ao anseio popular pela restauração das liberdades públicas e individuais, pela participação de todos os brasileiros na formação dos órgãos de poder e na definição dos princípios constitucionais que regerão a vida nacional". O Pacto de Montevidéu repercutiu mal entre o grupo de militares da "linha dura" ligados à Lacerda, que decidiram retirar o apoio que lhe emprestavam.

Desde então, a direção da Frente Ampla procurou dar ao movimento um conteúdo mais popular. Passou a enfatizar a luta contra a política salarial do governo e a buscar uma aproximação com o setor estudantil. Diante do avanço "frentista", o senador Nei Braga, após reunião com outros líderes da Aliança Renovadora Nacional (Arena), anunciou no dia 27 de setembro que o governo pretendia enfrentar a Frente Ampla no terreno político, através de campanha nacional e de esclarecimento da opinião pública.

Ao regressar ao Brasil em 25 de outubro de 1967, Juscelino foi ameaçado pelo ministro Gama e Silva de ser confinado durante 60 dias, caso se envolvesse em atividades políticas.

No dia 15 de março de 1968, Lacerda pronunciou discurso no qual, além de ressaltar a emergência da concretização da reforma agrária, acusava o Exército de se ter constituído no efetivo dirigente do país. Em decorrência, o ex-governador da Guanabara recebeu séria advertência do SNI e dos altos escalões das forças armadas.

O agravamento da situação política levou o governo a enrijecer suas posições e extinguir a Frente Ampla no dia 5 de abril de 1968, através da Instrução nº 177 do Ministério da Justiça.

Após a edição do Ato Institucional no 5 (AI-5), em 13 de dezembro de 1968, Lacerda foi detido e teve seus direitos políticos cassados por dez anos, e Juscelino foi mantido preso por alguns dias no 3o Regimento de Infantaria, em São Gonçalo (RJ). Libertado por motivo de saúde, permaneceu em prisão domiciliar por mais de um mês. Desde então abandonou definitivamente o cenário político e dedicou-se à atividade empresarial.