06. Prefeito de Belo Horizonte (1940 - 1946)

  • O prefeito Juscelino Kubitsheck discursa em praça pública. Belo Horizonte (?), s.d. Memorial JK.
  • Aspecto da cidade de Belo Horizonte. Minas Gerais, entre 1938 e 1940. FGV/CPDOC. Arq. Gustavo Capanema.
  • O prefeito Juscelino Kubitsheck e Oscar Niemeyer visitam as obras de construção do conjunto da Pampulha. Belo Horizonte, s.d. Memorial JK.
  • Juscelino Kubitsheck no bairro da Pampulha. Belo Horizonte, s.d. Memorial JK.
  • Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha. Belo Horizonte, s.d.
  • Augusto do Amaral Peixoto e outros durante a homologação da candidatura de Eurico Gaspar Dutra à presidência da República, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. 17 de julho de 1945. FGV/CPDOC. Arq. Augusto do Amaral Peixoto.
  • Bustos de Getúlio Vargas retirado das ruas após a queda de seu governo. Rio de Janeiro, outubro de 1945. FGV/CPDOC. Arq. Getúlio Vargas.

Juscelino Kubitschek tomou posse na prefeitura de Belo Horizonte em 16 de abril de 1940, sucedendo a José Osvaldo de Araújo.  Mesmo tendo-se tornado prefeito, permaneceu na chefia do Serviço de Cirurgia do Hospital Militar, onde continuou a operar todas as manhãs, e assumiu ainda a chefia do Serviço de Urologia da Santa Casa de Misericórdia. Além dessas atividades, proporcionava, pessoalmente, assistência médica a numerosas famílias pobres. Só abandonaria o exercício da medicina no início de 1945, quando passou a se dedicar exclusivamente à vida política.

Juscelino adotou como norma em sua administração dois princípios básicos: comparecer diariamente a todas as frentes de trabalho que fossem abertas e formar "comitês de bairro" para debater com os moradores os problemas locais. Semanalmente visitava um desses comitês.

Preocupado em remodelar a cidade de Belo Horizonte, Juscelino promoveu o asfaltamento de suas principais vias públicas, como as avenidas Afonso Pena e do Contorno, e abriu grandes avenidas ligando a do Contorno à área suburbana - eram as chamadas radiais, ou "bocas", que iriam permitir o acesso ao sistema rodoviário estadual. Dedicou-se às obras de infra-estrutura da cidade, removendo e ampliando as redes de esgoto e abastecimento de água. Ampliou o bairro de Lurdes e criou outros: o de Sion, o bairro-modelo de Cidade Jardim e o bairro dos Industriários, conjunto residencial destinado às classes trabalhadoras.

Uma de suas realizações mais famosas foi o conjunto arquitetônico da Pampulha, projetado por Oscar Niemeyer. Entre outras obras, o projeto incluiu a edificação de uma capela em homenagem a São Francisco, decorada com pinturas e azulejos de Cândido Portinari. A pequena igreja, por sua arquitetura e decoração arrojada, suscitou a indignação do arcebispo dom Antônio Cabral. Os críticos da obra acusavam o arquiteto e o pintor de comunistas e, portanto, consideravam-nos inaceitáveis para a edificação de um templo católico. A luta que Juscelino travou para o reconhecimento da capela iria prolongar-se por 17 anos. Somente em abril de 1959, após a designação de dom José de Resende Costa para arcebispo de Belo Horizonte, é que o problema foi resolvido, com a doação do templo à Mitra Arquidiocesana. Além da arquitetura de Niemeyer e da pintura de Portinari, a Pampulha contou com o paisagismo de Roberto Burle Marx. Ao final da obra, o bairro tornou-se um dos principais pontos de atração turística de Belo Horizonte. Ainda por iniciativa de Juscelino, a Fazenda Velha - última construção que restava do Curral del Rei, local onde foi erguida Belo Horizonte - foi tombada como patrimônio histórico e passou a abrigar um museu.

Em abril de 1941 Juscelino foi convidado para ocupar a presidência da Sociedade da Cultura Inglesa de Belo Horizonte. No exercício desse cargo, proferiu inúmeros discursos em favor dos países aliados envolvidos na Segunda Guerra Mundial.

Depois que, pressionado pela oposição civil e militar ao Estado Novo, Getúlio Vargas assinou, em 28 de fevereiro de 1945, o Ato Adicional que previa a realização de eleições gerais, Juscelino passou, ao lado de Benedito Valadares, a mobilizar a opinião pública de Belo Horizonte em favor do governo, com o objetivo de vencer as eleições. Estas foram afinal marcadas para o dia 2 de dezembro daquele ano.

Diante da indicação pelos setores oposicionistas da candidatura de Eduardo Gomes à presidência da República, Benedito Valadares, com o apoio de Vargas e de políticos favoráveis ao governo, como Juscelino, passou a patrocinar o lançamento da candidatura do ministro da Guerra, general Eurico Dutra. Em março de 1945, Juscelino participou ativamente dos trabalhos de criação do Partido Social Democrático (PSD), que seria formado principalmente em torno dos interventores, com o apoio de Vargas.

A convenção para o lançamento do PSD em Minas se realizou em 8 de abril de 1945. Escolhido primeiro-secretário da seção mineira do PSD, Juscelino foi encarregado de instalar a sede regional do partido em Belo Horizonte e proceder às filiações. Reuniu então em seu gabinete os presidentes dos "comitês de bairro" que, na sua quase totalidade, lhe prestaram irrestrita solidariedade e se prontificaram a ingressar de imediato no PSD. Juscelino passou a visitar com maior freqüência os bairros, entrando de casa em casa para doutrinar pessoalmente os eleitores.

A primeira convenção nacional do PSD, realizada em 17 de julho de 1945, homologou a candidatura de Eurico Dutra à presidência. No dia 8 de outubro, com a presença deste, reuniu-se em Belo Horizonte a comissão executiva do PSD mineiro, com o objetivo de indicar os candidatos do partido à Assembléia Nacional Constituinte. Entre os concorrentes às cadeiras de deputado federal, foi lançado o nome de Juscelino Kubitschek. Convertendo os antigos "comitês de bairro" em seções do PSD, Juscelino intensificou o processo de filiação partidária e conseguiu alistar imenso número de eleitores.

Com a deposição de Vargas pelas forças armadas em 29 de outubro, assumiu o poder o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro José Linhares. Uma de suas primeiras medidas foi substituir os interventores por representantes do Poder Judiciário e afastar os antigos prefeitos. Valadares foi então substituído pelo presidente do Tribunal de Justiça de Minas, Nísio Batista de Oliveira, e Juscelino, pelo engenheiro João Gusmán Júnior. José Linhares tratou também de baixar um decreto estabelecendo que as eleições estaduais não se processariam juntamente com as federais, mas somente após ser promulgada a nova Constituição.