Antônio Alves Câmara

  • Juscelino Kubitschek condecora Antônio Alves Câmara com a medalha naval. Rio de Janeiro, 29 de julho de 1958. Arquivo Público do Estado de São Paulo/Última Hora.

Antônio Alves Câmara Júnior nasceu em Salvador no dia 5 de agosto de 1891, filho do contra-almirante Antônio Alves Câmara e de Breginata Brasil Câmara. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal, freqüentou o Colégio Militar e em 1908 ingressou na Escola Naval. Em março de 1916 foi promovido a primeiro-tenente e serviu no cruzador Bahia. Em 1919, foi designado para servir na Diretoria de Hidrografia. Foi promovido a capitão-tenente em novembro de 1921 e, em maio de 1924, assumiu o comando do Tenente Lahmeyer, do qual foi exonerado um ano depois.

Em 1926, foi transferido para o cruzador Bahia e em 1928, foi designado para servir na Diretoria de Armamento, de onde sairia no ano seguinte ao ser nomeado encarregado de navegação do encouraçado São Paulo. Em novembro de 1930, logo após a revolução, foi dispensado de seu cargo. No início de 1932, exerceu por um mês o comando da Escola de Aprendizes de Marinheiro do Rio Grande do Norte e foi promovido a capitão-de-corveta.

Em 10 de outubro de 1932, foi preso e recolhido ao navio auxiliar Pedro I por suspeita de envolvimento com a Revolução Constitucionalista. Em 1934 foi nomeado comandante do navio auxiliar Rio Branco permanecendo no cargo até março de 1937, quando foi designado para servir na Diretoria de Navegação, onde se encontrava quando ocorreu o golpe do Estado Novo.

Em julho de 1938, foi designado técnico do Ministério da Marinha junto ao Conselho Nacional de Geografia e, em outubro, foi promovido a capitão-de-fragata. Em janeiro de 1941, foi designado para servir na seção de informações do Estado-Maior da Armada (EMA). Quatro meses depois desligou-se do EMA por ter sido nomeado comandante do contratorpedeiro Mariz e Barros, posto que ocuparia até o final da Segunda Guerra Mundial.

Após ser promovido a capitão-de-mar-e-guerra em julho de 1944, Alves Câmara voltou à Filadélfia para receber armamento projetado para o Mariz e Barros. Em abril de 1945 assumiu o comando do encouraçado São Paulo. A partir de outubro passou a representar a Marinha junto à comissão encarregada de estudar o mapeamento do território nacional. Em janeiro de 1946, foi promovido a contra-almirante e tornou-se diretor-geral de Hidrografia e Navegação da Armada. Exonerado desse cargo em março de 1949, passou a dirigir a Escola Naval.

Foi promovido a vice-almirante em fevereiro de 1952 e a seguir deixou a Escola Naval para assumir pela segunda vez a Diretoria de Hidrografia e Navegação. Em 1953, foi nomeado inspetor-geral e, pouco depois, secretário-geral da Marinha. Exonerado da Secretaria Geral em janeiro de 1954, foi nomeado adido naval junto à embaixada brasileira em Washington. Em julho desse ano foi promovido a almirante-de-esquadra, e em janeiro do ano seguinte retornou ao Brasil.

Com a vitória do Movimento do 11 de Novembro de 1955, que pôs fim às articulações golpistas contra a posse do presidente recém-eleito Juscelino Kubitschek, Alves Câmara foi nomeado, ainda no dia 11, ministro da Marinha em substituição ao vice-almirante Edmundo Jordão Amorim do Vale. No dia 14, ao lado dos ministros da Guerra, Henrique Teixeira Lott, e da Aeronáutica, Vasco Alves Seco, solicitou ao presidente em exercício Nereu Ramos a instauração do estado de sítio.

No dia 21, participou, junto com os outros chefes militares, da operação que impediu o retorno do presidente João Café Filho, que se havia afastado do cargo por motivo de saúde e era suspeito de ter participado do movimento contra a posse de Kubitschek. No dia seguinte, após a aprovação do impedimento de Café Filho pelo Congresso, reafirmou, juntamente com os outros ministros militares, o apoio das forças armadas a Nereu Ramos.

Mantido no cargo pelo presidente Juscelino Kubitschek, Alves Câmara participou do combate à Revolta de Jacareacanga. No dia 23 de novembro, reuniu-se com Kubitschek e comunicou-lhe a existência de um memorial redigido pelo almirantado contra a atuação da Frente de Novembro, movimento fundado em março de 1956 pelo coronel Nemo Canabarro Lucas com o objetivo de aglutinar os partidários do Movimento do 11 de novembro. Juscelino considerou o memorial um ato de indisciplina e exigiu que fosse tornado sem efeito. Alves Câmara replicou ao presidente que lhe entregava "em confiança" apenas o rascunho do documento, que oficialmente não existia. Juscelino deu-lhe prazo até as 17 horas para destruir o memorial, sob pena de prender todo o almirantado. Ante o ultimato, o ministro ameaçou renunciar. O presidente declarou que só aceitaria a renúncia após o cumprimento de suas ordens.

Às 17 horas, Alves Câmara retornou ao palácio para relatar seu encontro com os almirantes, durante o qual foi modificada a redação do memorial. Juscelino considerou que o novo texto seguia a linha do anterior. Sugeriu então, com o endosso do chefe da Casa Civil, Vítor Nunes Leal, que se adotasse a prática inversa: o governo elaboraria uma nota oficial, que seria submetida à aprovação do almirantado. Assim foi feito. O almirantado aprovou a nota, enviada depois aos jornais, encerrando-se, com isso, a crise na Marinha. No fim do mês, a Frente de Novembro acabou sendo fechada por Juscelino.

Em fevereiro de 1957, Câmara determinou a prisão do almirante Edmundo Jordão Amorim do Vale por suas declarações à imprensa sobre os acontecimentos de 11 de novembro de 1955.
Alves Câmara faleceu no exercício do cargo de ministro, em 14 de agosto de 1958, no Rio de Janeiro, e foi substituído pelo almirante Jorge do Paço Matoso Maia.