11. Na Presidência da República (1956 - 1961)
Juscelino Kubitschek assumiu a presidência da República em 31 de janeiro de 1956. Logo ao tomar posse, determinou o fim da censura à imprensa e solicitou ao Congresso a abolição do estado de sítio decretado após o Movimento do 11 de Novembro.
O programa de governo de Juscelino tinha como objetivo principal o desenvolvimento acelerado da economia e a industrialização do país. Sua elaboração baseou-se num ambicioso programa intitulado Plano de Metas, que previa investimentos em seis grandes áreas: energia, transportes, alimentação, indústrias de base, educação e uma "meta-síntese", a construção de Brasília. Sua implementação foi coordenada pelo Conselho do Desenvolvimento, órgão a partir do qual foram criados os chamados Grupos Executivos.
A política econômica adotada por Juscelino baseou-se na abertura ao capital privado nacional e estrangeiro e na maior intervenção do Estado na economia através da coordenação e planejamento dos investimentos. A nova política industrial utilizou como mecanismos básicos o aumento das linhas de crédito para o setor público e a ampliação dos subsídios à importação de produtos considerados estratégicos. Essas diretrizes foram duramente criticadas pela oposição, por causa de seu suposto impacto no aumento da inflação e no endividamento do país. O descontrole dos gastos públicos chegou mesmo a dificultar, em algumas ocasiões, a concessão de novos financiamentos, fato que provocou o rompimento do governo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em 1959. Apesar das dificuldades, o governo não se afastou de sua opção desenvolvimentista e conseguiu concretizar a maioria dos objetivos traçados no Plano de Metas.
Entre as principais realizações da gestão de Juscelino destacaram-se o desenvolvimento de importantes projetos nos setores siderúrgico e de energia elétrica, a implantação das indústrias da construção naval, automobilística e nuclear e a formação de um amplo sistema rodoviário integrando as diversas regiões do país. Outra medida importante foi a criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) em 1959. A sustentação política e econômica do Plano de Metas contou ainda com a contribuição do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), um dos núcleos mais importantes de elaboração da ideologia nacional-desenvolvimentista.
A principal marca do governo Kubitschek foi, no entanto, a construção de Brasília. Realizada pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), a obra foi concebida pela genialidade do arquiteto Oscar Niemeyer e do urbanista Lúcio Costa e inaugurada em 21 de abril de 1960.
Durante todo o período Kubitschek o país viveu uma relativa estabilidade política, garantida no Congresso Nacional pela maioria formada pelo Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Os opositores do governo localizaram-se basicamente na União Democrática Nacional (UDN), na imprensa antigetulista e em organizações como o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD). Além disso, Juscelino sofreu a oposição dos setores mais à esquerda da Frente Parlamentar Nacionalista (FPN). Embora contasse com o apoio da maior parte das forças armadas, enfrentou ainda algumas crises militares, como as revoltas de Jacareacanga, em 1956, e de Aragarças, em 1959.
Nos primeiros anos do governo Juscelino, a política externa brasileira não apresentou nenhuma alteração significativa em relação ao período precedente, o que significa, na prática, que foi mantida a aliança político-ideológica com os Estados Unidos. Tal orientação esteve presente, por exemplo, na decisão de permitir a instalação de uma estação americana de rastreamento de foguetes no território de Fernando de Noronha em 1956. Posteriormente, entretanto, a diplomacia brasileira adotou uma política de maior autonomia, cuja principal iniciativa foi a proposta de criação da Operação Pan-Americana (OPA), instituída em 1958.
Durante a campanha sucessória de 1960, Juscelino fez articulações para conter o crescimento da esquerda representada pelo PTB e, ao mesmo tempo, evitar o lançamento de um candidato com viabilidade eleitoral pelo PSD. Chegou mesmo a apoiar um nome de "união nacional", sugerindo o lançamento da candidatura do udenista Juraci Magalhães. Procurava com isso viabilizar sua volta ao poder em 1965, visto que o próximo governo teria de adotar medidas impopulares para estabilizar financeiramente o país. Viu assim com bons olhos a escolha do general Henrique Teixeira Lott como candidato da coligação PSD/PTB, prevendo que este teria poucas chances de vitória. Suas expectativas foram confirmadas, e o vitorioso foi Jânio Quadros, candidato apoiado pela UDN. Entretanto, mais uma vez, coube a João Goulart a vice-presidência da República.
Juscelino transmitiu o poder a Jânio em 31 de janeiro de 1961, tornando-se o primeiro presidente eleito por voto direto a completar o mandato desde a eleição de Artur Bernardes em 1922.
Durante os cinco anos em que permaneceu no governo, sua equipe ministerial teve, entre outros, os seguintes nomes: Parsifal Barroso, Mário Meneghetti (interino), Fernando Nóbrega, João Batista Ramos e Alírio Sales Coelho no Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio; Ernesto Dornelles, Mário Meneghetti, Fernando Nóbrega (interino) e Antônio de Barros Carvalho no Ministério da Agricultura; José Carlos Macedo Soares, Francisco Negrão de Lima, Edmundo Barbosa da Silva (interino) e Horácio Lafer no Ministério das Relações Exteriores; José Maria Alkmin, Lucas Lopes, Maurício Bicalho (interino) e Sebastião Pais de Almeida no Ministério da Fazenda; Lúcio Meira e Ernani do Amaral Peixoto no Ministério da Viação e Obras Públicas; Maurício de Medeiros, Mário Pinotti, Pedro Paulo Penido (interino) e Armando Falcão (interino) no Ministério da Saúde; Nereu Ramos, Eurico Sales, Carlos Cirilo Júnior e Armando Falcão no Ministério da Justiça; Clóvis Salgado, Celso Brant (interino), Pedro Calmon (interino), Nereu Ramos (interino) e Pedro Paulo Penido no Ministério da Educação e Cultura; almirantes Antônio Alves Câmara e Jorge do Paço Matoso Maia no Ministério da Marinha; generais Henrique Teixeira Lott e Odylio Denys no Ministério da Guerra; e brigadeiros Vasco Alves Seco, Clóvis Travassos (interino), Henrique Fleiuss e Francisco Correia de Melo no Ministério da Aeronáutica. Pela chefia do Gabinete Civil passaram Álvaro Lins, Vítor Nunes Leal, José Sette Câmara e Osvaldo Penido, e pela chefia do Gabinete Militar, o general Nélson de Mello. Outros colaboradores de destaque foram Augusto Frederico Schmidt (assessor da presidência), Bernardo Sayão (supervisor da Rodobrás), Celso Furtado (superintendente da Sudene), Israel Pinheiro (presidente da Novacap), Roberto Campos (presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico - BNDE) e Walther Moreira Salles (embaixador nos Estados Unidos).