José Américo de Almeida

  • José Américo de Almeida (sentado, à dir.), Armando Falcão (atrás, 1° da esq.) e Nélson de Mello (3°) assistem a discurso de Juscelino Kubitsheck. Rio de Janeiro, 28 de outubro de 1958. Arquivo Público do estado de São Paulo/Última Hora.

José Américo de Almeida nasceu em Areia (PB), no dia 10 de janeiro de 1887, filho de Inácio Augusto de Almeida e de Josefa Leopoldina Leal. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de Recife em 1908. Em 1911, foi nomeado promotor-geral do estado da Paraíba, cargo que ocupou até 1922, quando se tornou consultor-geral do estado. Bem relacionado nos círculos literários paraibanos, no ano anterior publicara seu primeiro livro. Em 1928 ganhou projeção ao lançar A bagaceira, considerado o ponto de partida do novo romance regional brasileiro.

Também em 1928 iniciou sua participação no governo de João Pessoa na Paraíba como secretário do Interior. Nas eleições presidenciais realizadas em março de 1930, apoiou a candidatura oposicionista de Getúlio Vargas, que tinha João Pessoa como vice em sua chapa. Poucos dias antes da eleição, o coronel José Pereira sublevara o município de Princesa, sua base política, contra o governo paraibano. A Revolta de Princesa, como ficou conhecida, recebeu apoio do governo federal e causou sérios problemas ao governo de João Pessoa. José Américo foi deslocado, então, para a Secretaria de Segurança, e participou pessoalmente da repressão à rebelião.

José Américo elegeu-se deputado federal em março de 1930, mas não teve seu mandato reconhecido pela Comissão de Reconhecimento da Câmara, vitimado pelo expediente da "degola". Participou ativamente, a partir de então, das articulações de um movimento revolucionário para depor o presidente Washington Luís. O movimento, cogitado desde antes da eleição, acelerou-se após o assassinato, em junho, do governador João Pessoa por um correligionário do coronel José Pereira. José Américo foi designado chefe civil da revolução nos estados do Norte e Nordeste, cabendo a chefia militar a Juarez Távora. Deflagrado o movimento no dia 3 de outubro, já no dia seguinte José Américo assumia o controle do governo paraibano, ao mesmo tempo que dava posse, junto com Juarez Távora, a diversos interventores nos estados vizinhos.

Após a posse de Vargas no governo federal, em novembro, José Américo foi nomeado ministro da Viação e Obras Públicas. Participou ativamente da formação do Clube 3 de Outubro, organização que buscava dar coesão aos revolucionários que defendiam o ideário tenentista. Após combater a proposta de constitucionalização imediata do país, foi designado por Vargas para compor a comissão encarregada de elaborar o anteprojeto da futura Constituição. Como ministro de Estado participou, na condição de membro nato, dos trabalhos constituintes entre 1933 e 1934, e articulou a eleição indireta de Vargas para a presidência da República.

 Em julho de 1934 exonerou-se do ministério e em seguida foi eleito senador pela Paraíba. Já no ano seguinte, porém, renunciaria ao mandato para ocupar, por indicação de Vargas, o posto de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Durante o ano de 1937, teve seu nome lançado para concorrer à sucessão de Vargas nas eleições previstas para janeiro do ano seguinte. Recebeu, então, o apoio de quase todos os governadores e membros do governo federal, e procurou apresentar-se como o candidato situacionista. Os opositores do governo federal, por sua vez, lançaram o nome do governador paulista Armando de Sales Oliveira, enquanto a Ação Integralista Brasileira (AIB) lançou seu líder Plínio Salgado. Vargas, porém, frustrou a expectativa dos candidatos ao promover, em novembro de 1937, o fechamento do Congresso e o cancelamento das eleições presidenciais, dando início à ditadura do Estado Novo.

José Américo afastou-se, então, de Vargas, mas manteve-se no TCU durante todo o Estado Novo. No final de 1944, retomou as atividades políticas. Em janeiro de 1945, representou a Paraíba no Congresso Brasileiro de Escritores, evento que assumiu nítido caráter antiditatorial. No mês seguinte, concedeu entrevista ao jornalista Carlos Lacerda, publicada no Correio da Manhã, criticando o governo federal. Essa entrevista rompeu com a censura até então vigente no país e alcançou grande repercussão.

Em seguida, dedicou-se à articulação da candidatura presidencial do brigadeiro Eduardo Gomes, lançada por opositores do Estado Novo reunidos na União Democrática Nacional (UDN), e fez parte, inclusive, da comissão diretora do novo partido. A eleição, realizada em dezembro de 1945, foi vencida, porém, pelo general Eurico Gaspar Dutra, apoiado por Vargas, que dois meses antes fora deposto pelos chefes militares.

Em janeiro de 1947, deixou o TCU ao eleger-se senador por seu estado natal. Nesse mesmo mês foi escolhido para a presidência nacional da UDN. Em maio do ano seguinte, porém, desligou-se do partido por discordar de sua excessiva aproximação com o governo de Dutra. Fundou, então, na Paraíba, o Partido Libertador (PL), legenda na qual elegeu-se governador do estado em 1950.

Em 1953, já reconciliado com Vargas, que exercia então seu segundo governo, deixou o governo paraibano e voltou a assumir o Ministério da Viação e Obras Públicas. Com o suicídio de Vargas, em agosto de 1954, demitiu-se do ministério, apesar de ter sido convidado pelo presidente Café Filho a permanecer no cargo. Reassumiu, então, o governo da Paraíba. Ao terminar sua gestão, afastou-se dos cargos públicos. Manteve, porém, forte influência sobre a política paraibana ainda por muitos anos. Em 1964, deu apoio ao golpe militar que depôs o presidente João Goulart e instalou novo período ditatorial no país.

Em 1967, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL).

Casou-se com Ana Alice de Azevedo Melo, com quem teve três filhos. Faleceu em João Pessoa no dia 10 de março de 1980.