08. A Campanha Presidencial de 1950

  • Campanha de Eduardo Gomes para a presidência da República. 1950. FGV/CPDOC. Arq. Cordeiro de Farias.
  • Convenção do PSD mineiro que homologou a candidatura de Juscelino Kubitsheck ao governo de Minas Gerais. Belo Horizonte, junho de 1950. FGV/CPDOC. Arq. Cristiano Machado.
  • Getúlio Vargas durante campanha presidencial em São Paulo, entre agosto e setembro de 1950. FGV/CPDOC. Arq. Getúlio Vargas.
  • Campanha presidencial Getúlio Vargas. São Paulo, entre agosto e setembro de 1950. FGV/CPDOC. Arq. Getúlio Vargas.
  • Homenagem do PTB a Getúlio Vargas. S.I., s.d. FGV/CPDOC. Arq. Getúlio Vargas.
  • Cristiano Machado e outros durante a campanha presidencial em Minas Gerais. Belo Horizonte, entre junho e outubro de 1950. FGV/CPDOC. Arq. Cristiano Machado.
  • Cristiano Machado discursa durante a campanha presidencial. Salvador, entre 17 e 19 de junho de 1950. FGV/CPDOC. Arq. Cristiano Machado.

Em meados de 1949, diante das divergências quanto à sucessão presidencial, os políticos mineiros decidiram tentar estabelecer uma reconciliação partidária. Gabriel Passos, representando a União Democrática Nacional (UDN), Mário Brant, o Partido Republicano (PR), e Juscelino Kubitschek, o Partido Social Democrático (PSD), elaboraram um manifesto que foi entregue ao presidente Eurico Dutra, propondo um esquema de união de todos os partidos nacionais para a escolha do candidato à presidência. O chamado "acordo mineiro", do qual participaram todos os partidos em Minas, com exceção do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), mostrou-se porém inviável. Dele resultou inclusive a renúncia de Nereu Ramos - que insistia em impor sua candidatura - à presidência nacional do PSD. O partido passou então a ser presidido por Benedito Valadares.

Optando pela tese da candidatura partidária, a UDN lançou oficialmente, em 18 de abril de 1950, a candidatura de Eduardo Gomes. A comissão executiva do PSD nacional indicou Cristiano Machado como candidato do partido no dia 15 de maio, e lançou oficialmente essa candidatura no início de junho. Resolvido o congraçamento do PSD no plano federal, as discussões passaram a girar em torno da escolha do candidato do partido ao governo de Minas. Existiam aí duas correntes: a que apoiava Juscelino e a que se inclinava por Bias Fortes.

Em 10 de junho, a comissão executiva do PSD mineiro promoveu três reuniões para a escolha do candidato ao governo do estado. Após acirrada disputa, Euvaldo Lodi, coordenador da candidatura Bias Fortes, propôs com sucesso que naquele dia fosse designada uma subcomissão de cinco membros, que, após discutir o assunto no Rio, submeteria seu veredicto à comissão executiva estadual. Acolhida a sugestão, Benedito Valadares foi escolhido presidente dessa subcomissão, da qual também faziam parte Fernando de Melo Viana, Euvaldo Lodi, Ovídio de Abreu e Israel Pinheiro. Juscelino e Bias Fortes firmaram então o compromisso de acatar qualquer que fosse a resolução, a fim de evitar dissidências no seio do PSD.

Embora Bias Fortes contasse com o apoio de Dutra e do general Pedro Aurélio de Góis Monteiro, Juscelino, além de se encontrar em situação de maior vantagem dentro da subcomissão, conseguiu, por intermédio do senador Artur Bernardes Filho, o apoio do PR à sua candidatura. Alegando a necessidade de ser preservada a unidade do PSD, bem como de fortalecer a candidatura de Cristiano Machado, Góis Monteiro apelou a Bias Fortes e a Juscelino para que concordassem em devolver à comissão executiva do partido o poder de escolher o candidato. Com a concordância dos dois, em meados de julho foi extinta a subcomissão.

A reunião da comissão executiva do PSD ocorreu em 20 de julho, e Juscelino foi escolhido por 13 votos contra dez dados a Bias Fortes. Nesse mesmo dia a UDN realizou sua convenção e escolheu Gabriel Passos como candidato do partido ao governo do estado. A candidatura de Juscelino foi finalmente homologada em 30 de julho, durante a convenção do PSD mineiro. Ainda em julho o PTB lançou a candidatura de Getúlio Vargas à presidência da República.

Contando com apenas dois meses para desenvolver sua campanha, Juscelino decidiu realizar concentrações nos centros-chave de cada região do estado, particularmente no chamado Triângulo Mineiro, no sul e no oeste de Minas, e na Zona da Mata. Visitou, ao todo, 168 municípios. Por inspiração de Pedro Calmon, então reitor da Universidade do Brasil, adotou o slogan "Energia e transportes", que sintetizava seus objetivos administrativos. Além do PR, Juscelino passou a contar com o apoio do Partido Trabalhista Nacional (PTN), Partido Social Progressista (PSP), Partido Social Trabalhista (PST) e Partido Orientador Trabalhista (POT).

Em meados de agosto, Juscelino entrevistou-se com Vargas, e este, enquanto presidente nacional do PTB, declarou estar disposto a apoiar sua candidatura. Juscelino, porém, declinou desse apoio, alegando que, caso o aceitasse, ficaria em posição moral insustentável, pois enquanto secretário-geral da comissão executiva do PSD estava amplamente comprometido com o candidato de seu partido, Cristiano Machado. Rogou entretanto ao ex-presidente, no que seria prontamente atendido, que este não interferisse na questão da sucessão estadual e desse ampla liberdade de voto aos trabalhistas mineiros. Por outro lado, a candidatura Vargas esvaziou a de Cristiano Machado, pois ponderáveis setores do PSD desviaram o voto para o ex-presidente, num movimento que ficou conhecido como "cristianização".

Nas eleições de 3 de outubro, Getúlio Vargas elegeu-se presidente da República, derrotando por larga margem de votos Cristiano Machado e Eduardo Gomes. Juscelino Kubitschek conquistou o governo mineiro, obtendo 714.364 votos, contra 544.086 dados a Gabriel Passos.

Em 2 de janeiro de 1951, em entrevista com Juscelino, Vargas declarou sua intenção de governar acima dos partidos, mas em estreita cooperação com os governadores. Desse modo, não iria proceder à "antiga política dos governadores, mas a uma política com os governadores".