Francisco Negrão de Lima

  • Francisco Negrão de Lima (1° fila, de chapéu), Tancredo Neve e Juscelino Kubitsheck em cerimônia pública em São João Del Rei (MG), 1952. FGV/CPDOC, Arq. Tancredo Neves.

Francisco Negrão de Lima nasceu em Lavras (MG) no dia 24 de agosto de 1901, filho de João Nepomuceno Lucas de Lima e de Maria das Dores Negrão de Lima.  Formou-se pela Faculdade de Direito de Belo Horizonte em 1924. Além da advocacia, exerceu a profissão de jornalista na capital mineira. Entre 1925 e 1926 ocupou o cargo de oficial-de-gabinete do secretário de Justiça de Minas Gerais, Sandoval Azevedo.

Em 1930 apoiou a candidatura de Getúlio Vargas a presidente da República. Seu primeiro cargo eletivo foi obtido na legenda do Partido Progressista (PP) de Minas Gerais em 1933, quando recebeu a maior votação da bancada mineira para a Assembléia Nacional Constituinte. Ganhou projeção nacional graças ao papel desempenhado na execução do golpe do Estado Novo, no episódio que ficou conhecido como "Missão Negrão de Lima".

Nomeado chefe de gabinete do ministro da Justiça, Francisco Campos, assumiu interinamente a pasta em algumas ocasiões. Atuou como embaixador do Brasil na Venezuela em 1941 e no Paraguai em 1942. Em 1945 filiou-se ao Partido Social Democrático (PSD) e no ano seguinte foi nomeado embaixador da Bélgica pelo presidente Eurico Dutra. Foi removido para o Ministério das Relações Exteriores em 1947, voltando a ocupar o Ministério da Justiça em 1951.

Com a chegada de Juscelino Kubitschek à presidência da República em 1956, foi nomeado prefeito do Distrito Federal.  Em sua administração introduziu modernos métodos de planejamento urbano, tendo como objetivo cooperar com a nascente indústria automobilística nacional.  Enfrentou de início uma onda de protestos contra o aumento das passagens de bonde, que logo foi reprimida pelas forças do I Exército.

Em julho de 1958 passou o cargo para Freire Alvim e assumiu o Ministério da Relações Exteriores, atuando como chanceler da Operação Pan-Americana (OPA).

A oportunidade política do lançamento da operação ficou configurada com a viagem do vice-presidente norte-americano Richard Nixon ao Peru e à Venezuela, em maio de 1958, quando ocorreram manifestações populares antiamericanas. Na mesma época, estavam em curso delicadas e difíceis negociações do Brasil junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para a obtenção de empréstimos.

Em agosto de 1958, o secretário de Estado dos EUA, John Foster Dulles, fez uma viagem ao Brasil. Nas conversações que manteve com Juscelino, ficou patente que, embora o governo norte-americano desejasse reformular suas relações com a América Latina, seu interesse prioritário era o de reprimir o comunismo. Foster Dulles, além disso, por sua hostilidade ao monopólio estatal do petróleo, era contrário à concessão de financiamentos do Banco de Exportação e Importação (Eximbank) norte-americano à Petrobras. Com grande relutância, o enviado do governo dos EUA modificou a minuta de declaração conjunta de que viera munido e assinou, conjuntamente com Negrão de Lima, uma nota em que se estabelecia a necessidade de um entendimento entre todos os chefes de governo do continente para a realização de uma reunião de seus chanceleres em Washington, com a finalidade de trabalhar pelos objetivos da OPA.

A viagem de Foster Dulles trouxe algumas vantagens para o governo de Kubitschek: os EUA reconheceram, ao menos formalmente, os princípios da operação e admitiram a criação de uma entidade que viria a se transformar, no ano seguinte, no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Começou a tomar forma, igualmente, a idéia de um mercado comum latino-americano, posteriormente concretizada na criação da Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC). E o Brasil obteve do Eximbank créditos no valor de 158 milhões de dólares, pagáveis em oito anos, a partir de 1962.

Após a vitória da Revolução Cubana e a ascensão de Fidel Castro ao poder, a política norte-americana para o continente seria finalmente modificada numa direção semelhante à preconizada por Juscelino, com a criação, pelo presidente John Kennedy, da Aliança para o Progresso. As relações entre Brasil e Estados Unidos tornaram-se difíceis em abril-maio de 1959 devido a divergências em torno da OPA e do conflito que opôs o governo de Kubitschek ao FMI.

Negrão deixou a pasta das Relações Exteriores em 10 de agosto de 1959, sendo substituído por Horácio Lafer. Nomeado pelo presidente da República embaixador do Brasil em Portugal, assumiu o posto em dezembro do mesmo ano. Deixou o cargo em fins de 1963, a fim de chefiar o comitê nacional da candidatura de Kubitschek à presidência nas eleições que deveriam se realizar em outubro de 1965.

Neste último ano, foi eleito governador da Guanabara pela coligação formada pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e pelo Partido Social Democrático (PSD).  Após a conclusão de seu mandato passou a atuar na iniciativa privada, tendo sido membro do conselho consultivo do Banco Safra e presidente da Bolsa de Imóveis do Rio de Janeiro.

Francisco Negrão de Lima casou-se com Ema Negrão de Lima, com quem teve uma filha. Faleceu no Rio de Janeiro no dia 26 de outubro de 1981.